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Fuente: Internet World Stats

🇧🇷 Brasil: Entre melhores práticas e dificuldades tecnológicas e financeiras

Adoção mais ampla de recursos e sistemas de inteligência artificial (IA) pelos meios nacionais esbarra nas diferenças transnacionais entre Norte e Sul Global de distribuição de tecnologia e de capital, além da dependência das empresas de plataforma – as big tech – fornecedoras desse insumo sociotécnico.

Enquanto se espera que o Congresso Nacional aprove lei para regulamentação da inteligência artificial (IA) no Brasil neste ano, os grupos e empresas de jornalismo do país vão fazendo experimentos, buscando incorporar recursos e sistemas da IA Generativa (IAG). Considerando-se a diversidade de meios, as questões regionais, assim como as condições econômicas distintas, o contexto brasileiro aponta para a expressividade de alguns exemplos com emprego da IA em iniciativas lideradas por meios da legacy media e por nativos digitais, além de experimentações que vão marcando o movimento da mídia em direção à automação por IA. 

Neste contexto, observa-se a consequente dependência das grandes empresas de plataforma — big tech — especialmente para os meios do Sul Global. O uso do ChatGPT, uma IAG ligada à Microsoft, quase que padrão nas diferentes iniciativas locais, reforça essa dependência. 

As iniciativas de uso de IA incluem bots, chatbots, machine learning, natural language generation, visualização, criação de imagens, geração de textos e automação de pautas. Esses recursos são utilizados em um conjunto variado de meios, como G1 e Grupo Globo, UOL, Folha de S. Paulo, Estadão, Núcleo Jornalismo, a agência de checagem Aos Fatos, Serenata de Amor, Jota e Agência Tatu.

Captura de tela da IAG FátimaGPT, da agência de checagem Aos Fatos, que usa API do ChatGPT. (https://fatimagpt.aosfatos.org)

“Legislatech” é ferramenta de IAG do Núcleo Jornalismo que se integra ao ChatGPT. (https://legisla.tech/)

No guia “O mínimo que um jornalista precisa saber sobre Inteligência Artificial para Começar 2024” (Carpes, Osório & Vieira, 2023), informa-se que portais como o UOL desenvolvem  ferramentas que realizam traduções e transcrições automáticas de áudio e vídeo, inclusive para lives no YouTube. A ferramenta foi possível a partir da integração com a Interface de Programação de Aplicação (API) do modelo Whisper, da OpenAI. Em 2022, o UOL também usou IAG para publicar conteúdos sobre as eleições gerais.

Em março, a TV Globo estreou novos cenários interativos que empregam realidade aumentada e recursos de inteligência artificial para seus telejornais “Jornal da Globo”. Nas eleições gerais de 2022, publicou pela primeira vez textos e vídeos jornalísticos de modo automatizado para os cargos de presidente, governador, senador, deputados federais e estaduais.

G1 utilizou IA para gerar conteúdos sobre eleições (https://acortar.link/o9iNW3)

Ética e credibilidade

Para as eleições municipais de outubro de 2024, o Tribunal Superior Eleitoral do Brasil já estabeleceu regras para uso da Inteligência Artificial (IA). Dentre elas, a que exige que qualquer material visual feito por meio de inteligência artificial deverá trazer o aviso explícito sobre o uso da tecnologia. 

Já no setor de notícias, repercutiu bastante o caso da Editora Abril, que retirou do ar 311 textos publicados no site da sua revista Bebê, por suspeita de plágio com uso de IA a partir de informações produzidas por marcas jornalísticas como O Globo, Folha de S. Paulo, UOL, revista Crescer (da Editora Globo) e BBC News Brasil

Para se adequar a esse contexto, o Grupo Estado publicou sua política de uso de ferramentas de inteligência artificial. As diretrizes estabelecidas pelo grupo vetam, por exemplo, o uso de IA para gerar fotos, ilustrações, vídeos ou áudios e asseguram que a responsabilidade final pelas produções jornalísticas estará a cargo de profissionais. O grupo também criou o Comitê de Inteligência Artificial. Entre os nativos digitais, o Núcleo Jornalismo foi pioneiro na divulgação da sua política de uso de IA.

Já a da Editora Globo atualizou os termos de uso para vetar o acesso a seus textos, imagens, áudios e vídeos por sistemas de inteligência artificial generativa. Busca, com isso, proteger os conteúdos para evitar que as grandes empresas de plataforma — big tech — treinem seus sistemas de IA generativa sem pagar para tal. 

Cabe acompanhar o movimento dos meios nacionais para saber como farão frente às limitações financeiras, de acesso à tecnologia e ao domínio das big tech para conseguirem inovar, garantindo operações sustentáveis e a entrega de conteúdos jornalísticos de qualidade que motivem o debate público nas audiências.    

Referências 

  • Carpes, G., Osório, M., & Vieira, L. (2023). O mínimo que um jornalista precisa saber sobre Inteligência Artificial para começar 2024. Farol Jornalismo.
  • Newman, N. (2023). Journalism, media, and technology trends and predictions 2023. Reuters Institute for the Study of Journalism. https://acortar.link/ekfGPs 
  • Nielsen, R. K., & Ganter, S. A. (2022). The Power of Platforms: Shaping Media and Society. Oxford University Press.
  • Pérez-Seijo, S., Barbosa, S., & Vicente, P. N. (2023). Artificial intelligence in journalism: Case study of the Spanish, Portuguese, and Brazilian news media systems. En M.C. Negreira-Rey, J. Vázquez-Herrero, J. Sixto-García, & X. López-García (Eds.), Blurring Boundaries of Journalism in Digital Media New Actors, Models and Practices. Springer Nature.
  • Pinto, M. C., & Barbosa, S. O. (2024). Artificial Intelligence (AI) in Brazilian Digital Journalism: Historical Context and Innovative Processes. Journalism and Media, 5(1), 325–341.
  • Santos, M. C. (2020). Data-Driven Journalistic Operation: Reshaping the Idea of News Values with Algorithms, Artificial Intelligence and Increased Personalization. Brazilian Journalism Research, 16(3), 458-475. https://doi.org/10.25200/BJR.v16n3.2021.1295
  • Simon, F. M. (2022). Uneasy bedfellows: AI in the news, platform companies and the issue of journalistic autonomy. Digital Journalism, 10(10), 1832-1854. https://doi.org/10.1080/21670811.2022.2063150

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